Home / Notícias / Dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, é preso pela PF

Dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, é preso pela PF

Reprodução/Divulgação

O empresário Daniel Vorcaro, de 42 anos, controlador do Banco Master, foi preso pela Polícia Federal na noite de segunda-feira (17), no Aeroporto Internacional de Guarulhos, quando se preparava para embarcar para Dubai. A detenção ocorreu no âmbito da Operação Compliance Zero, que investiga a emissão de títulos de crédito falsos, gestão fraudulenta e temerária, além da possível atuação de uma organização criminosa no sistema financeiro nacional. A prisão foi antecipada após monitoramento indicar risco de fuga.

Deflagrada nesta terça-feira (18), a operação cumpre cinco mandados de prisão preventiva, dois temporários e 25 de busca e apreensão em cinco estados e no Distrito Federal. Entre os alvos, está o sócio de Vorcaro, Augusto Lima, e o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, que foi afastado de suas funções por decisão judicial, assim como três diretores da instituição.

A ofensiva policial coincide com a liquidação extrajudicial do Banco Master, decretada pelo Banco Central também nesta terça-feira. A decisão foi assinada pelo presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, e torna indisponíveis os bens de controladores e ex-administradores, suspendendo qualquer operação de venda — inclusive o anúncio feito horas antes sobre a suposta aquisição da instituição pelo consórcio liderado pela Fictor Holding Financeira.

Modelo de negócios agressivo e desequilíbrios internos

Fundado em 2016 após a entrada de Vorcaro no então Banco Máxima, o Master se reposicionou no mercado adotando estratégias consideradas agressivas. A instituição passou a oferecer CDBs com remuneração que chegava a 140% do CDI, atraindo investidores pessoas físicas e destacando a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos. Quando a captação passou a sofrer restrições regulatórias, o banco intensificou a venda de letras financeiras para fundos de pensão estaduais e municipais. A RioPrevidência, por exemplo, aplicou cerca de R$ 1 bilhão nesses papéis, sem garantia do FGC.

O modelo, inflado por captação de alto custo, sustentava uma carteira de ativos concentrada em empresas em dificuldade financeira. O Master operava no limite máximo de alavancagem permitido pelo Banco Central, dez vezes o valor do capital próprio, cenário incomum mesmo entre bancos de médio porte. A prática despertou atenção de analistas e culminou em uma cobrança formal do BC, que exigiu a redução de riscos e um aporte de R$ 2 bilhões. Sem cumprimento das exigências no prazo, o banco entrou em situação crítica.

Em setembro, o Banco Central vetou a aquisição do Master pelo BRB, apesar de aval favorável do Cade e da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Técnicos consideraram problemático o modelo de negócios e as inconsistências financeiras da instituição.

Suspeitas de fraude

As investigações da PF indicam que o Master pode ter movimentado cerca de R$ 12 bilhões em títulos lastreados em carteiras de crédito inexistentes ou sem avaliação técnica. Segundo os investigadores, a instituição oferecia rentabilidade até 40% superior à praticada no mercado, algo incompatível com a estrutura financeira do banco.

A venda anunciada ao grupo Fictor, feita horas antes da prisão, é tratada pela PF como possível tentativa de blindagem. Para os investigadores, a operação funcionaria como uma “bomba de fumaça”, destinada a confundir o mercado, reduzir danos reputacionais e ganhar tempo enquanto irregularidades se tornavam públicas.

Ascensão meteórica e vida de luxo

A trajetória de Vorcaro é marcada por contrastes. Filho de uma família que se aproximou da Igreja Batista da Lagoinha após intervenção do avô, um imigrante italiano convertido ao protestantismo, o empresário começou a trabalhar ainda jovem em negócios viabilizados pelo pai, Henrique Vorcaro. Fundos imobiliários, incorporadoras e um curso de ensino médio fizeram parte de suas primeiras experiências — algumas bem-sucedidas, outras contestadas por ex-funcionários.

A virada ocorreu em 2016, quando assumiu o controle do Banco Máxima ao lado de sócios paulistas. Em 2021, rebatizou a instituição como Banco Master e adotou postura de destaque na Faria Lima. Instalou a sede em um prédio de alto padrão, investiu em campanhas publicitárias estreladas por celebridades e cultivou imagem de empreendedor audacioso.

A ascensão financeira coincidiu com um estilo de vida luxuoso. Vorcaro comprou imóveis de alto valor, investiu no Atlético Mineiro, adquiriu e revendeu o hotel Fasano Itaim ao BTG Pactual, e promoveu uma festa de debutante avaliada em R$ 15 milhões para a filha. Em 2023, sua família comprou uma mansão de US$ 37 milhões em Orlando, a mais cara já negociada na região.

Colapso e ruptura

O cenário começou a ruir após sinais de fragilidade na estrutura financeira do banco e sucessivas cobranças do Banco Central. A tentativa frustrada de aquisição pelo BRB sinalizou instabilidade interna. O anúncio da venda para a Fictor, seguido da prisão de Vorcaro e da liquidação extrajudicial, encerra de forma abrupta a trajetória do banqueiro que, em poucos anos, passou de figura emergente da Faria Lima a alvo de uma das maiores operações da PF no setor financeiro recente.

A Operação Compliance Zero segue em andamento, e os investigadores analisam possíveis conexões com autoridades públicas e o impacto dos títulos irregulares sobre fundos de pensão e investidores individuais.

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *