A atriz Tilly Norwood, criada por inteligência artificial que viralizou nas redes sociais nos últimos dias, tem gerado uma grande revolta em Hollywood, na Califórnia (EUA), centro da indústria cinematográfica.
A personagem é uma criação do estúdio Xicoia, liderado por Eline Van der Velden. Tilly foi minuciosamente projetada com inteligência artificial para ser uma atriz multifacetada. Com aparência, personalidade e até uma narrativa de fundo bem definidas, ela está apta a trabalhar em diversos formatos – de cinema e séries a publicidade, redes sociais e podcasts – e já atrai a atenção de agências de talentos.
Desde o seu lançamento no Festival de Cinema de Zurique, Tilly Norwood tem sido o assunto mais comentado em Hollywood, mas não de forma positiva. A novidade gerou uma onda de críticas e protestos de associações, atores e cineastas, que se uniram na defesa de que a inteligência artificial não deve ser priorizada no cenário da atuação.
O objetivo do estúdio é transformar a personagem digital em uma estrela. “Queremos que Tilly seja a próxima Scarlett Johansson ou Natalie Portman”, declarou Van der Velden, defendendo a iniciativa como uma nova forma de expressão artística e uma ferramenta criativa que expande as narrativas, em vez de uma ameaça.
Em comunicado, o sindicato norte-americano de artistas Screen Actors Guild (SAG-AFTRA) reiterou que “a criatividade é, e deve permanecer, centrada no ser humano”. ‘Tilly Norwood’ não é uma atriz, é uma personagem gerada por um programa de computador treinado com base no trabalho de inúmeros artistas profissionais — sem permissão ou remuneração”, afirmou a associação.
Revolta em Hollywood
A estreia de Tilly dividiu opiniões em Hollywood. Melissa Barrera (Em um Bairro de Nova York), em uma de suas publicações, pediu: “Espero que todos os atores representados pelo agente que fizer isso o abandonem. Que nojo, leiam a sala.”
Mara Wilson (atriz famosa por Matilda): Questionou a origem da atriz virtual, acusando o estúdio de plágio e roubo de identidade: “Roubaram os rostos de centenas de jovens mulheres para criar esta ‘atriz’ de IA. Não são criadoras. São ladrões de identidade”
A atriz Emily Blunt (conhecida por O Diabo Veste Prada e Oppenheimer), também expressou sua opinião, resumindo o sentimento de pânico: “Isso é IA? Meu Deus, estamos ferrados. É realmente assustador. Agências, por favor parem.”
Entre as críticas mais fortes está a preocupação com o direito de imagem. Tilly foi gerada a partir da combinação de traços de centenas de mulheres, levantando a dúvida se elas deveriam ser compensadas ou creditadas. A atriz Mara Wilson resumiu essa indignação ao perguntar diretamente: se rostos reais foram usados para criar a personagem digital, por que o estúdio não contratou uma das jovens atrizes de verdade?
Criadora de Tilly defende o novo gênero artístico
Para a criadora Eline Van der Velden, a revolta de Hollywood é baseada em um mal-entendido. Ela defende que Tilly Norwood não representa uma substituição de atores humanos, mas sim a emergência de um novo gênero artístico que merece ser julgado por seus próprios méritos.
Em uma publicação detalhada no Instagram, Van der Velden comparou sua criação a outras linguagens artísticas que, historicamente, geraram debate, mas acabaram enriquecendo a arte, como animação, teatro de fantoches ou CGI. Leia a declaração na íntegra:
Para aqueles que expressaram raiva pela criação de nossa personagem de IA, Tilly Norwood: ela não é uma substituta para o ser humano, mas um trabalho criativo – uma peça de arte. Como muitas outras formas de arte antes dela, ela gera conversa, e isso por si prova o poder da criatividade.
Não vejo a IA como uma substituta para as pessoas, mas como uma nova ferramenta – um novo pincel. Assim como animação, teatro de fantoches ou CGI abriram novos caminhos sem tirar nada de atores vivos. A IA oferece outra forma de imaginar e criar histórias. Eu mesma sou uma atriz, e nada – certamente não uma personagem de IA – pode me tirar a alegria ou a arte da performance humana.
Criar Tilly, para mim, tem sido um ato de imaginação e artesanato, assim como desenhar um personagem, escrever um papel ou moldar uma atuação. Gasta tempo e habilidade trazer uma personagem como esta à vida. Ela representa experimentação, não substituição. Muito do meu trabalho tem sido sobre segurar um espelho para a sociedade por meio da sátira, e isso não é diferente.
Eu também acredito que personagens de IA devam ser julgadas como parte de seu próprio gênero, com seus próprios méritos, ao invés de serem comparadas como atores humanos. Cada forma de arte tem seu lugar, e cada uma pode ser valorizada pelo que só ela proporciona.
Eu espero que possamos dar boas-vindas à IA como parte de uma família artística mais ampla: mais uma forma de nos expressarmos, junto ao teatro, ao cinema, à pintura, à música e muitos outros. Quando celebramos todas as formas de criatividade, abrimos as portas para novas vozes, novas histórias e novas formas de nos conectarmos.
