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Auditoria aponta desvios de materiais da Nike no Corinthians e coloca vice-presidente no centro das irregularidades

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Reprodução / Instagram @ge

Um relatório interno revelou uma série de falhas e suspeitas graves na gestão dos materiais esportivos fornecidos pela Nike ao Corinthians. Entre junho e outubro, o vice-presidente Armando Mendonça retirou 131 itens do estoque, segundo o documento, enquanto equipes de base e outros departamentos conviviam com falta de uniformes e até com material deteriorado.

A investigação também flagrou um funcionário vendendo peças do clube e registrou situações em que o Corinthians não tinha camisas suficientes sequer para disputar partidas oficiais.

A diretoria do clube não se manifestou até a publicação desta reportagem. Mendonça nega qualquer irregularidade, afirma que o relatório é “tendencioso” e rebate as acusações de ameaça ao responsável pela auditoria.

Cota estourada e estoque fora de controle

De acordo com o relatório obtido pelo ge, o Corinthians recebeu 41.963 itens da Nike apenas em 2025, um aumento de 24% em relação ao ano anterior. Somados os dois anos, o valor estimado dos materiais chega a R$ 23,7 milhões, quase 300% acima do limite anual previsto em contrato, de R$ 4 milhões.

Apesar do volume alto, grande parte dos departamentos não recebia o necessário. Esportes aquáticos, por exemplo, estavam totalmente sem uniformes oficiais. No futsal e no basquete de base, camisas e calças apresentavam desgaste extremo, remendos e desbotamento.

Ainda assim, o clube desembolsou R$ 776 mil para comprar itens licenciados, o que o relatório classifica como gasto desnecessário, já que o fornecimento da Nike não gera custos ao Corinthians.

Outro ponto considerado grave é a existência de R$ 6,4 milhões em notas fiscais que não foram registradas no sistema do clube entre 2024 e 2025, gerando riscos contábeis e fiscais.

A auditoria constatou que apenas o sub-20 recebeu kits completos da coleção 2025. As categorias inferiores precisaram recorrer a modelos antigos, coleções de 2019 para treinos e de 2021 para jogos. Em alguns momentos, o próprio departamento foi orientado a “racionar” o uso de material por medo de faltar peças para a Copa São Paulo.

Um dos episódios mais simbólicos do descontrole aconteceu antes da partida contra o Fluminense, no Maracanã, em setembro. O clube percebeu que não tinha camisas brancas suficientes, o uniforme principal, e precisou pedir aos cariocas que ambas as equipes atuassem com seus uniformes reservas. O Fluminense aceitou.

A investigação também apurou uma denúncia anônima sobre a venda irregular de itens da Nike dentro e fora do clube. Um funcionário foi flagrado comercializando peças desviadas por valores entre R$ 150 e R$ 180. Ele admitiu participação no esquema.

Vice-presidente é apontado como figura central

O relatório destaca que Armando Mendonça, responsável pela gestão dos materiais desde a posse do presidente Osmar Stabile, aparece no centro de ações consideradas irregulares.

A auditoria indica que:

  • Mendonça retirou diretamente materiais do CT, sem registro formal;
  • pediu para si 19 camisas especiais de um jogo contra o Palmeiras, com patches da NFL, cancelou o pedido após descobrir que a auditoria sabia, mas ainda assim retirou oito peças sem formalização;
  • solicitava de seis a 11 camisas extras por jogo para ações de relacionamento, sendo o principal beneficiário dessas retiradas;
  • ordenou a transferência de materiais considerados insatisfatórios do CT para o Parque São Jorge, sem qualquer documentação fiscal.

Entre junho e outubro, ele retirou 131 itens, sem contar as camisas de “relacionamento”.

O documento afirma que, durante o processo, Mendonça teve conversas tensas com Marcelo Munhoes, diretor de Tecnologia e responsável pela auditoria. Segundo o texto, ele usou expressões agressivas e falas interpretadas como ameaças.

Em outro episódio citado, o vice-presidente entrou sem ser convidado em uma reunião com a Nike e conduziu o diálogo de forma a constranger os demais presentes.

Conclusões e recomendações

A auditoria aponta falhas importantes de controle, retirada de materiais sem trâmites formais, ausência de registros completos e indícios de comercialização indevida de itens.

Mesmo com grande volume recebido, diversas modalidades continuaram sem uniformes, revelando uma distribuição ineficiente.

O relatório sugere 17 recomendações e foi enviado ao presidente Osmar Stabile, ao Conselho Deliberativo e à Polícia Civil, que já apura o caso em inquérito próprio.

Em resposta ao ge, Armando Mendonça afirmou que:

  • não é responsável pelas diretrizes de distribuição dos materiais;
  • assumiu temporariamente a gestão para “organizar o caos” deixado pela administração anterior;
  • solicita melhorias constantes no sistema;
  • usa materiais apenas para ações de relacionamento;
  • todas as solicitações são registradas por e-mail;
  • não fez ameaças e discorda do teor do relatório.

Sobre a retirada direta de itens, afirmou que o processo é comum e formalizado, e classificou o relatório como “tendencioso”.

Também negou interferência na auditoria e disse que divergências internas são normais, ressaltando que nunca faltou com respeito.

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