Reprodução / Instagram @kingjianyu_turenscape
O arquiteto e urbanista chinês Kongjian Yu, referência mundial no planejamento urbano sustentável e criador do conceito das chamadas “cidades-esponja”, morreu na noite desta terça-feira (23) em um acidente aéreo no Pantanal sul-mato-grossense. A queda da aeronave ocorreu na Fazenda Barra Mansa, em área rural de Aquidauana, e deixou quatro vítimas fatais. Além de Yu, também perderam a vida os cineastas brasileiros Rubens Crispim Júnior e Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz, que documentavam seu trabalho, além do piloto e proprietário do avião, Marcelo Pereira de Barros.
A aeronave envolvida na tragédia era um monomotor Cessna 175, fabricado em 1958, com documentação em dia e, segundo autoridades locais, em condições regulares de operação. Mesmo assim, caiu pouco após a decolagem. Bombeiros e policiais foram acionados, mas, devido à dificuldade de acesso à região, não conseguiram chegar a tempo de prestar socorro. As causas do acidente ainda serão apuradas pela perícia.
Kongjian Yu tinha 61 anos e era considerado uma das maiores autoridades mundiais em arquitetura e urbanismo sustentável. Nascido em 1963 na vila de Dongyu, em Jinhua, província de Zhejiang, na China, ele cresceu em uma família de agricultores, experiência que moldou sua visão sobre a importância da integração entre natureza e cidades. Doutor pela Universidade de Harvard, fundou em 1998 o escritório Turenscape, hoje entre os maiores do mundo, e também atuava como professor na Universidade de Pequim.
Reconhecido por sua inovação e engajamento, Kongjian foi laureado com alguns dos principais prêmios da arquitetura e do urbanismo internacional, entre eles o IFLA Sir Geoffrey Jellicoe Award (2020), o Cooper Hewitt National Design Award (2023) e, neste ano, o RAIC International Prize.
Seu nome, porém, tornou-se globalmente associado ao conceito das “cidades-esponja”, desenvolvido após uma tragédia em Pequim, em 2012. Naquele ano, chuvas torrenciais provocaram enchentes que resultaram na morte de 80 pessoas, enquanto a Cidade Proibida, graças a sistemas de drenagem ancestrais, permaneceu intacta. A partir dessa observação, o arquiteto propôs que as cidades modernas passassem a absorver e armazenar a água das chuvas em vez de expulsá-la rapidamente por meio de sistemas de drenagem convencionais.
O conceito foi adotado como política nacional pelo governo chinês em 2013 e inspirou a implementação de mais de mil projetos em 250 cidades, segundo o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR). Entre as soluções defendidas pelo arquiteto estavam a substituição do concreto por pavimentos permeáveis, a criação de áreas verdes capazes de acumular água, como lagos e parques, e a recuperação de zonas alagáveis. Para ele, essas medidas eram fundamentais para enfrentar enchentes urbanas e os impactos da crise climática.