Reprodução / Instagram @angela_ro_ro_oficial
A música popular brasileira perdeu, nesta segunda-feira (8), uma de suas vozes mais marcantes e autênticas. Angela Ro Ro, cantora e compositora que atravessou gerações com sua voz rouca, interpretação intensa e personalidade irreverente, morreu aos 75 anos. A informação foi confirmada à TV Globo pelo advogado da artista, Carlos Eduardo Lyrio.
Angela estava internada desde junho no Hospital Silvestre, no Cosme Velho, Zona Sul do Rio de Janeiro, em decorrência de uma grave infecção pulmonar. Ao longo dos últimos meses, enfrentou diversas complicações e chegou a passar por uma traqueostomia. Recentemente, sofreu uma nova infecção e não resistiu. Segundo consta na certidão de óbito, a causa da morte foi infecção generalizada e pneumonia bacteriana.
Nascida Angela Maria Diniz Gonsalves, no Rio de Janeiro, recebeu o apelido de “Ro Ro” ainda na infância, por causa do timbre grave que mais tarde se tornaria sua marca registrada. Começou a estudar piano clássico aos cinco anos de idade e, desde cedo, demonstrava a sensibilidade musical que a acompanharia por toda a vida.
Nos anos 1970, após uma temporada na Itália, onde conheceu o cineasta Glauber Rocha, Ro Ro deu os primeiros passos profissionais. Em seguida, mudou-se para Londres, onde trabalhou como garçonete, lavadora de pratos e faxineira em hospital, mas também se apresentou em pubs locais. Foi por indicação de Glauber Rocha que participou do disco Transa, de Caetano Veloso, tocando gaita em uma das faixas.
De volta ao Rio, começou a se apresentar em casas noturnas e logo chamou a atenção da gravadora Polygram/Polydor, hoje Universal Music. Em 1980, conquistou reconhecimento nacional ao interpretar “Amor, Meu Grande Amor” no palco do Teatro Fênix. Vestida de smoking e sozinha sob os holofotes, revelou ao país uma artista singular, que falava de sentimentos pelo olhar das mulheres. Na mesma ocasião, dividiu a cena com a veterana Angela Maria.
Ao longo da carreira, Ro Ro construiu um repertório que transitava entre blues, samba-canção, bolero e rock, sempre com intensidade e autenticidade. Foi influenciada por nomes como Ella Fitzgerald, Maysa e Elis Regina, mas criou uma sonoridade única. Canções como “Balada da Arrasada”, interpretada por Ney Matogrosso, “Fogueira”, gravada por Maria Bethânia, e o clássico “Amor, Meu Grande Amor”, regravado por Frejat, consolidaram sua presença no cenário musical brasileiro.
Mais do que músicas, Ro Ro deixou histórias de uma vida vivida sem máscaras. Assumida desde o início da carreira, Angela falou abertamente sobre amores, paixões e dificuldades. Enfrentou também períodos turbulentos, marcados por excessos e problemas financeiros. Em uma de suas declarações mais conhecidas, disse: “Eu fiz a experiência de me autodestruir e não fui competente. Errei. E daí? Errei comigo”.
Nos últimos anos, afastou-se dos palcos por questões de saúde e chegou a pedir ajuda financeira pelas redes sociais. Sua última apresentação aconteceu em maio, no Teatro Rival, no Rio. Pouco antes da internação, participou da produção de um documentário sobre sua trajetória, dirigido por Liliane Mutti, cineasta responsável por Miúcha – A Voz da Bossa Nova (2022). O filme, atualmente em fase final, deve eternizar ainda mais a voz e a história dessa artista ímpar.