Foto: TECA LAMBOGLIA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Neste domingo (20), o Brasil se despediu de Preta Gil, cantora, atriz e figura tão presente na música e na cultura brasileira. Aos 50 anos, a artista faleceu em decorrência de um câncer no intestino com metástases, após meses de luta corajosa e transparente. Preta dividiu com o público não apenas seu tratamento, mas também suas angústias, fé, medos e, principalmente, sua força.
Mas um dos momentos mais marcantes dessa jornada aconteceu meses antes de sua morte, quando, em entrevista ao programa “Conversa com Bial”, a cantora revelou ter recebido um dos conselhos mais profundos de seu pai, o também ícone Gilberto Gil.
Com a sabedoria de quem já viveu muito e refletiu ainda mais, Gil disse à filha:
“Se for pra ir, vá em paz. Vá sem medo. A morte também é parte da vida.”
Palavras simples, mas que carregam um peso imensurável. Elas ecoaram nos corações de quem acompanhou sua batalha e, agora, voltam à tona como um lembrete doloroso, e ao mesmo tempo sereno, sobre a aceitação do fim.
O que a história de Preta nos ensina sobre aceitar a morte?
Falar sobre a morte nunca é fácil. Em uma sociedade que evita o assunto, ver uma figura pública abordar isso com tanta lucidez e afeto familiar é algo poderoso. O gesto de Gilberto Gil ao conversar com a filha sobre a possibilidade da partida não foi de desistência, mas de compreensão — de oferecer à filha a liberdade de não carregar o peso do medo, caso o pior acontecesse.
Preta não desistiu. Lutou com todas as forças. Mas também se permitiu viver os últimos meses com conexão, espiritualidade e propósito. E isso é, em si, uma forma de vitória.
Uma conversa que vai além da fama
Num momento em que as redes sociais estão cheias de homenagens e lembranças de Preta Gil, uma coisa é certa: sua história vai além da arte. Ela também deixa um legado de humanidade, de coragem emocional e de entrega à vida — mesmo quando o fim se aproxima.
A conversa com Bial, que na época emocionou o público, ganha agora uma nova camada de significado. O que era apenas um relato íntimo de pai e filha torna-se símbolo de algo maior: a importância de falar sobre a morte com verdade, amor e acolhimento.
Falar sobre o fim não é perder a esperança
Aceitar a morte não significa desistir da vida. Pelo contrário. Significa reconhecer o seu valor. Quando falamos sobre o fim com quem amamos, deixamos espaço para o que realmente importa: o presente, o afeto, o perdão, os gestos simples. E talvez seja por isso que Preta Gil permaneceu tão amada e admirada até o fim — ela viveu com intensidade, vulnerabilidade e coragem.
Um legado de música, afeto e humanidade
Preta Gil nos deixa uma herança cultural inegável. Mas, mais do que isso, deixa também um exemplo de como encarar a vida e a morte de forma digna e consciente. Suas palavras, suas escolhas e a conversa sincera com o pai são agora parte de um capítulo comovente da história brasileira.
Que seu descanso seja tão leve quanto sua alma, e que o conselho de Gilberto Gil continue ressoando: que possamos encarar o fim não com desespero, mas com a tranquilidade de quem sabe que viver bem é, também, saber partir em paz.